1.Muitos pacientes relacionam doenças à espiritualidade. Estudos em pacientes com doenças terminais relatam que a grande maioria tem necessidades espirituais. Infelizmente e a maioria dessas necessidades não é atendida.
Necessidades espirituais não satisfeitas podem aumentar a mortalidade, independente se a doença é mental, física ou social.
2. A espiritualidade influencia na capacidade do paciente de lidar com a sua doença. A maioria dos pacientes hospitalizados, usa a religião como suporte para superar as suas doenças. Boa parte deles apontam que a fé é a principal forma de enfrentamento.
O enfrentamento deficiente traz resultados médicos menos favoráveis, tanto em termos de prolongamento do tempo de internação, quanto de aumento da mortalidade.
3. As crenças afetam as decisões dos pacientes e podem entrar em conflito com tratamentos médicos, além de influenciar o cumprimento desses tratamentos. Estudos têm mostrado que as crenças influenciam as decisões dentre aqueles que tem doenças graves, especialmente entre aqueles com câncer avançado ou HIV / AIDS.
4. As crenças dos profissionais médicos frequentemente influenciam suas decisões e afetam o tipo de atendimento que oferecem aos pacientes, incluindo decisões sobre o uso de analgésicos, aborto, vacinações e contracepção.
5. A religião ou espiritualidade está associado à saúde mental e física e provavelmente afeta os desfechos médicos. Se assim for, os profissionais de saúde precisam saber sobre essas influências, assim como precisam saber se uma pessoa usa álcool ou drogas. Aqueles que prestam cuidados de saúde devem estar cientes de todos os fatores que influenciam a saúde e os cuidados de saúde.
6. Influencia também o tipo de apoio e cuidado que os pacientes recebem quando voltam para casa. Uma comunidade de apoio à fé pode garantir que os pacientes recebam acompanhamento médico.
7. Pesquisas mostram que o fracasso em atender às necessidades espirituais dos pacientes aumenta os custos dos cuidados com a saúde, especialmente no final da vida.
Esse é um momento em que os pacientes e as famílias podem exigir cuidados médicos (geralmente cuidados médicos custosos), mesmo quando o tratamento continuado for considerado infrutífero. Por exemplo, pacientes ou famílias podem estar orando por um milagre. “Desistir”, retirando o apoio à vida ou concordar com cuidados paliativos, pode ser visto como falta de fé ou falta de crença no poder de cura de Deus. Se os profissionais de saúde não tiverem uma história espiritual para que os pacientes / familiares sintam-se à vontade para discutir abertamente tais questões, as situações podem continuar indefinidamente e consumir grandes quantidades de recursos médicos.
Os Resultados dessas pesquisas, o desejo de fornecer cuidados de alta qualidade e, simplesmente, bom senso, apontam para a necessidade de integrar a espiritualidade no atendimento ao paciente.
Espiritualidade e saúde mental, um pouco de história
Religião, medicina e saúde têm se relacionado, em todos os grupos socias, desde as primeiras civilizações humanas. Ao longo dos tempos, porém, esses sistemas de cura foram sendo separados. Essa separação ocorreu, principalmente, em nações desenvolvidas. Nos países em desenvolvimento ainda há pouca ou nenhuma separação.
A história da religião, medicina e saúde nos países desenvolvidos do Ocidente é fascinante. Os primeiros hospitais do Ocidente foram construídos por organizações religiosa. Ao longo da Idade Média e até a Revolução Francesa, os médicos eram frequentemente clérigos.
Por centenas de anos, de fato, instituições religiosas foram responsáveis por licenciar médicos para praticar medicina. Nas colônias americanas, em particular, muitos dos clérigos eram também médicos – muitas vezes como um segundo emprego que ajudava a complementar sua magra renda do trabalho da igreja.
Os cuidados de pessoas com problemas de saúde mental, no Ocidente, tiveram suas raízes dentro de mosteiros e comunidades religiosas.
Em 1247, o Priorado de Santa Maria de Belém foi construído em Londres, às margens do rio Tâmisa. Originalmente projetado para abrigar “pessoas distraídas”, este foi o primeiro hospital psiquiátrico da Europa (e talvez do mundo).
No Brasil, esse processo foi muito mais lento, pois até o final do século XIX as instituições de atenção aos doentes mentais eram de segurança pública para os perigosos e de filantropia para os “mansos”.
Apesar de existirem enfermarias para doentes mentais nas unidades de Santa Casa de Misericórdia e em outras cidades brasileiras, estas não se diferenciavam dos calabouços das cadeias públicas.
A primeira referência a um hospital destinado ao atendimento dos alienados surgiu no Rio de Janeiro em edito publicado por D.Pedro II em 1841, sendo inaugurado dez anos depois.
Ainda assim, do início da república até meados do século XX, os médicos ainda batalharam pelo processo de secularização na direção de instituições para tratamento de doentes mentais no Brasil.
No mundo moderno essa separação secular foi robustecida pelo neurologista Sigmund Freud. Depois de conhecer os aspectos neuróticos e histéricos da religião pelo famoso neurologista francês Jean Charcot em meados da década de 1880, Freud começou a enfatizar isso em uma série de publicações amplamente lidas de 1907 até sua morte em 1939.
Textos de Freud, como os Atos Religiosos e Práticas Obsessivas, a Psicanálise e Religião, o Futuro de uma Ilusão, e Moisés e o Monoteísmo, deixaram um legado que influenciaria a prática da psiquiatria pelo resto do século XX e embasaria ao cisma entre a religião e os cuidados de saúde mental. Isso talvez explique porque tão pouco se sabe sobre a relação entre o envolvimento religioso e os transtornos mentais graves na atualidade.
O campo da religião, espiritualidade e saúde está crescendo rapidamente nos últimos anos, e ouso dizer, está se movendo da periferia para a corrente principal da saúde. Todos os profissionais de saúde devem estar familiarizados com as razões para integrar a espiritualidade no atendimento ao paciente e ser capaz de fazê-lo de uma maneira sensível. O que está em jogo é a saúde e o bem-estar de seres humanos em suas três dimensões de cuidado: corpo, mente e espírito.
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Spirituality in Psychiatry:
A Biopsychosocial PerspectiveMarc Galanter
Sou muito grato por esta publicação. Dr. Lucas, acolhe, cuida e ensina! …
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