A organização do espaço urbano, ou mesmo as cores da sua casa, pode interferir no seu estado psicológico? A neurociência afirma que sim

A interseção entre neurociência e arquitetura promete oferecer insights biologicamente inspirados para design dos espaços urbanos. Mas, o que é isso?

O principal objetivo de intercessão entre neurociência e arquitetura é motivar a construção de ambientes que possam contribuir para a saúde e o bem-estar da sociedade, de forma ampla, e no tratamento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno pós-traumático, de forma específica.

Os ganhos são muitos. Segundo as pesquisas desenvolvidas por Cooper & Burton (2014); Passini, Pigot, Rainville, & Tétreault (2000), Mehta & Zhu (2009), entre muitos outros cientistas do ramo da neurociência, da arquitetura, da psicologia e da psiquiatria:

 O design do ambiente pode facilitar ou atrapalhar a aprendizagem, interferir no comportamento social e no bem-estar emocional.

 

O poder das cores e da natureza nos espaços internos

 

Outras pesquisas comprovaram como as cores do ambiente podem interferir no humor e no comportamento.

A imersão em ambientes pintados de vermelho apresentou a capacidade de melhorar o desempenho de tarefas cognitivas orientadas para detalhes. Enquanto espaços azuis mostraram estar associados ao pensamento criativo aprimorado.

A diversidade de tons, segundo as pesquisas, interfere também no comportamento de pacientes portadores de transtornos ou doenças caracterizadas pelo comprometimento cognitivo.

As pesquisas comprovaram que um ambiente monocromático faz com que pacientes com a doença de Alzheimer se percam com frequência.

Já incorporar ao ambiente pontos de referência visuais frequentes, como objetos de cores opostas e visões exteriores, como de uma janela, por outro lado, tem a capacidade de melhorar a localização e a navegação nesses mesmos espaços. (Passini, Pigot, Rainville, & Tétreault, 2000).

Da mesma forma, a presença de plantas e outras características naturais no ambiente, como cascatas e jardins de inverno, tem a propriedade de melhorar o humor, a memória operacional e acelerar a recuperação do estresse social ou do estresse cirúrgico (Ulrich, 1984; Ulrich et al., 1991; Bowler, Buyung-Ali, Knight & Pullin, 2010; Bratman, Daily, Levy, & Gross, 2015).

Esses estudos representam apenas alguns exemplos de como a estética e o design do ambiente construído podem ter um impacto na saúde mental.

E isso não é à toa. A maior parte da população passa mais de 90% de suas vidas em edifícios (Evans & McCoy, 1998).

 

Essa é uma abordagem recente? É claro que não!

Culturas humanas em todo o mundo têm considerado a experiência estética do ambiente construído como vital no desenvolvimento das sociedades.

Por milênios, antigas práticas de construção orientais, como o vaastu shastra indiano e o feng shuichinês ofereceram guias práticos para a criação de harmonia ética e coerência estética no ambiente construído (Patra, 2009; Mak & Thomas Ng, 2005).

O modernismo, por sua vez, concentrou seus esforços na priorização da função em detrimento da forma, criando assim um novo conceito estético para o ambiente construído.

Além de incluir questões como segurança contra incêndios, custos de construção e usos eficientes do espaço, o modernismo, influenciou gerações de arquitetos a otimizar os aspectos mensuráveis e muitas vezes mecanicistas da arquitetura, em detrimento das questões estéticas (Vaughan, 2013).

Uma das descobertas da emergente “neurociência da arquitetura” é que negligenciar aspectos estéticos, se torna impossível.

Isso ocorre por que o cérebro capta o espaço construído ao nosso redor de uma forma particular.

Sistemas cerebrais e experiências estéticas

O cérebro utiliza,  basicamente, três sistemas de larga escala que geram as experiências estéticas: o sensório-motor, o conhecimento-significado e o de valoração emocional.

A experiência com o espaço construído envolve múltiplas redes sensoriais, presumivelmente visuais, auditivas, somatossensoriais, olfativas e vestibulares. Essas redes ativam o sistema sensório-motore desencadeiam respostas motoras e afetivas, como, por exemplo, a aproximação ou a evitação”. Conclui Lucas Benevides.

Os sistemas de conhecimento de significadoinformados por experiências pessoais, cultura e educação também moldam os encontros com o ambiente construído. Criando uma simpatia ou antipatia ao edifício.

Finalmente, as redes de valoração emocional mediam sentimentos e emoções produzidos pelos edifícios e espaços urbanos (Leder et al., 2004; (Vartanian et al., 2015).

Apesar de emergente, a neurociência da arquitetura retoma conceitos já experimentados por civilizações, muitas delas orientais, que percebem o ambiente como um todo e sempre consideram a experiência estética como fundamental.

Com uso de ferramentas modernas da neurociência esta cada vez mais próxima a possibilidade de se criar ambientes planejados para propósitos pré-definidos direcionados para a saúde mental.

 

 

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